Reflexões sobre machismo (e outros temas) no movimento das tecnologias livres

Pessoal, tenho conversado com várias pessoas sobre o tema e resolvi abrir aqui.

Contexto :bomb: :boom:

Recentemente o tema da expulsão do Stallman voltou. Para quem não sabe, faz um tempo o Richard Stallmenn está metido numa confusão em que declarações problemáticas dele o levaram a ser acusado de apoiar um homem acusado de pedofilia. A acusação é grave, mas tem sido questionada.

Aqui vão alguns textos que explicam a situação:

Um movimento exigindo a expulsão do Stallmann ganhou força, ele saiu da FSF, e agora voltou, o que fez reacender a discussão no argumento de que “Se a FSF aceitou a volta do Stallman, significa que o instituto é machista e deve ser boicotado”. Declarações dessa carta aberta:

“Imploramos àqueles capazes de fazê-lo, que não mais apóiem a Free Software Foundation. Recusem-se a contribuir com projetos relacionados a FSF e a RMS. Não dêem palestras ou participem de eventos relacionados à FSF, ou eventos em que RMS e sua intolerância participem. Pedimos que colaboradores(as) de projetos de software livre posicionem-se contra a intolerância e ódio existente em seus projetos. Ao fazê-lo, digam às comunidades e à FSF o porquê.”

Contudo, tem se indicado que esse boicote está sendo liderado por grupos e instituições aliadas a corporações que tem interesse em dominar o movimento open source e torna-lo mais flexível, menos radical. E a FSF, e o Stallman, são símbolos da defesa do aberto e livre pela liberdade das pessoas, não como modelo de negócio. Então, essa acusação, vinda de instituições que não são livres de acusações similares, parece que tem mais motivação nos interesses economicos, do que sociais.

Alguns textos sobre isso:

Minha opinião (em construção) :thinking: :dizzy_face:

Em resumo, o discurso feminista sendo cooptado por corporações para defender seus interesses economicos.

O que tem me incomodado nessa discussão é que ela está centrada em inocentar ou não o Stallman, e, com isso, decidir se ele pode ou não participar da FSF. É como se a ceitação dele fosse a única ação machista da FSF, e sua expulsão a solução salvadora. Não tem se discutido (não tenho visto textos sobre) o fato de que o machismo (racismo, LGTB+fobia, capacitismo, etc.) são estruturais, e não uma questão individual. A reprodução dessas violências e opressões não depende apenas de uma pessoa, é uma questão muito maior.
Evidente que a expulsão de uma pessoa tem uma força simbólica muito importante, mas certamente não é a solução final.

Independente da inocência ou não do Stallman, a discussão deveria ser sobre quais ações a FSF, e todas as outras organização do movimento, deveriam tomar para criar espaços seguros e para não reproduzir essas violências nas tecnologias desnvolvidas.

Algumas reflexões sobre isso aqui:

:bangbang: Proposta de discussão: levantei muitos temas problemáticas, mas o centro do que quero propor é: :bangbang:

Criei esse espaço para compartilharmos opiniões sobre tema, com o foco em que tipo de medidas podemos tomar para que nossas organizações e coletivos, e, quem sabe, o movimento de tecnologias livres, consigam superar (idealmente) essas violências estrturais e criar novas formas de produzir conhecimento, que não pautadas em visões de mundo e pensamentos coloniais, de exploração, de dominação, etc.

Criando um espaço seguro :broken_heart: :heart:

Pessoal, esse é um tema sensível, então vamos lembrar de manter o respeito a opinião um dos outros. É muito possível que algumas de nossas opiniões ainda reproduzam valores machistas, racistas, etc., então acho importante apontarmos isso nas falas dos colegas de forma tranquila; da mesma fora, é importante estar atento para não falar bobagem e aceitar que críticas serão feitas, então cuidado para não ficar na defensiva. É evidente que declarações explícitas de ódio não serão toleradas, se liga né.
Me disponho também para conversas no privado, caso alguém esteja inseguro sobre fazer algum comentário.

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Muito bom abrir esse debate aqui.

Eu concondo totalmente com a necessidade da discussão sair da “personificação de todo mal” para uma questão ampla que vai realmente tocar nas estruturas permissivas a discursos preconceituosos nos mais amplos aspectos.

Vou falar do Stallman só nessa parte do meu comentário porque quero evitar essa individualização do assunto. Uma coisa delicada aqui (e o texto da Renata Avila é muito bom quando fala do cancelamento de Stallman enquanto o MIT foi poupado), é que não há espaço, ao menos legal, até agora para dizer se ele é inocente ou não. Porque as críticas e ataques iniciaram devido a emails do MIT onde algumas pessoas consideram inadequada e o acusam de conivente ou ao menos passador de pano de Epstein. Mas Stallman é grandinho demais para se defender sozinho sobre suas opiniões.

O que me interessa, na verdade, é pensar como podemos manter um movimento pelo livre e aberto de uma forma que desafie estruturas opressoras e centralizadoras. Como ter uma organização (e não falo aqui necessariamente da FSF), que comunique de forma transparente seus membros sobre suas decisões, e esteja aberta o suficiente para gerar uma confiança e um ambiente seguro que assuma as responsabilidades quando alguém se sente descriminada, ou coagida/agredida. Essa confiança é inclusive importante para proteger-se de possíveis ataques infundados difamatórios.

O modo como começaram os tuítes na segunda-feira (22/03), um dia depois do anúncio pela FSF, pareciam tentativas de apagar uma pessoa ou um grupo. Não eram nem um pouco abertos a debates (devo ter sido bloqueado por uns 3 e tive retuítes dos meus posts me chamando de conivente). Bom deixar claro que, sim, havia várias pessoas bem intencionadas e aberta ao diálogo declarando repúdio ao que havia passado.
Curiosamente, algumas horas depois já estavam IBM/RedHat, bolsista da fundação Melinda & Bill Gates, etc. postando suas críticas e assinando carta de repúdio. Navegando no mar de tuítes negativos. No mesmo dia começaram ataques às licenças GPL e alguns projetos anunciando estarem mudando de GPL para qualquer outra não-livre.

A reação dos “defensores” (com raras exceções), por outro lado se limitavam a defender Stallman e a FSF, sem assumir possíveis erros ou mesmo olhar para as reais implicações disso. Muito além de pessoas ou instituições. O segundo bloco de links da @marinappdf são interessantes porque exatamente saem dessa bolha flaflu/grenal do “a favor ou contra stallman”.

Deixo aqui textos que me parecem bem oportuno e foram escritos na primeira temporada do caso:

Esse debate é muito relevante para não cairmos na mediocridade de soluções fáceis. Não é apagando alguém ou exaltando ao status de semi-deus que vamos avançar.

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